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Compartilhar com o outro a ideia de ser artista

Apesar de ser quase um consenso que em tempos difíceis a arte tem a função de amenizar o sofrimento humano, há quem encare o momento como uma boa oportunidade para desconstruir o próprio artista e seu ofício.

“Se o artista está preocupado em tornar a vida do cara um pouco menos dura por conta de um desastre, pandemia ou guerra, tem que ter a consciência de que não está fazendo nada de fato”, afirma Bieto. E continua: “Em um momento tão singular como o que estamos vivendo, gostaria de esvaziar o papel do artista como antena sensível à frente do seu tempo. Defendo um enterro simbólico dessa postura de auto-afirmação”.

Contrapondo-se a isso, Bieto sugere que desmitificando o artista como tal se abririam possibilidades para criações além das manifestações atuais, pautadas em experiências pessoais diante da crise.

“Sei que chorar ajuda, mas não consigo. Estou inquieta. Ando de um cômodo para o outro, respiro pela fresta da janela, sinto o coração bater como se dissesse: realize seus desejos.” O Diário de Anne Frank

Patrimônio da Humanidade, livro relata experiências de uma adolescente escondida em um quarto oculto na própria casa durante a invasão nazista à Amsterdã no período da  Segunda Guerra Mundial

“Em um momento de pandemia ou guerra, por exemplo, qualquer um poderia criar sua própria realidade e seus desafios. Ser agente de sua realidade, praticar seus desejos em ações e não simplesmente reagir ao que lhe é imposto. A arte, nesse contexto, seria o resultado de uma ação natural, geradora de potência para uma nova criação, e sua função, a sobrevivência”.

Em seu trabalho diário, Bieto tem pensado no que pinta como a concretização de uma possibilidade que já existe como realidade imaterial e é efetivada no campo físico, na ação de cada pincelada. “São escolhas em um campo aberto. Me interessa construir uma linguagem própria que toda vez interfira e quebre as minhas próprias expectativas e as de quem entre em contato com ela. E assim me tornar novo, limpo, mantendo a superfície dos acontecimentos lisa”.

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