Entrevista

Entrevista: Roberto Bieto – Grafite e Movimento

Matéria Original de Transamerica Expo

 

Movimento, curvas e cores intensas são alguns dos elementos presentes nos trabalhos do artista Roberto Bieto. Ele começou a se interessar cada vez mais pelo grafite na época do colégio e foi descobrindo novas perspectivas sobre a expressão artística e a forma como ela se conecta com os espaços e as pessoas.

Bieto já imprimiu sua percepção reflexiva sobre o dia a dia em muros e paredes de diferentes partes do mundo. Recentemente, o Transamerica Expo Center também ganhou as cores e linhas marcantes do artista e aproveitamos para bater um papo com ele. Confira!

Você começou a sua carreira em 1998 e desde então vem se destacando como um dos grandes artistas brasileiros. Como nasceu a sua paixão pelo grafite e quais foram as suas principais referências?

Comecei a admirar o grafite depois de uma aula que tive no colegial e, a partir daí, comecei a observar as paredes com mais atenção. Eu já desenhava e encontrei no grafite uma expressão que me encantava por conta da questão da atitude e por poder criar relações na rua. Hoje, eu vejo que a vivência no processo do grafite é muito legal, pois passamos por vários momentos juntos enquanto procurávamos um lugar para pintar. Esta parte é encantadora e me nutriu bastante durante o período de descoberta. Eu fazia essas voltas com o Jean e o Chico [amigos de Bieto] e eram incríveis. Mais tarde, nós agregamos novos amigos, o nosso grupo cresceu e eu pude começar a admirar outros grafiteiros com mais propriedade. Alguns dos que mais me encantavam eram o Vitché, o Tinho e o Binho. Depois, fui conhecendo vários outros artistas que me serviram como inspiração.

As suas obras são marcadas pelas cores vivas e pela sensação de movimento causada pela forte presença de curvas. O que você busca despertar no público?

Movimento é vida! Tudo é movimento! Em várias esferas da vida, a gente observa que tudo é movimento. Por isso, me encanta observar os movimentos das coisas, da vida, das relações e dos encontros. Eu quero compartilhar algo que seja mais próximo do humano em todos nós. Todo ser humano reconhece sede, frio, fome, carinho, conforto e isso vai para além de raça, gênero…A minha busca é me conectar com “esse lugar em mim” e procurar uma conexão com “esse lugar no outro”. O movimento é um lugar e as questões de crescimento biológico e físico sobre como as coisas crescem por progressões aritméticas, Fibonacci, e pensamentos assim me interessam e me encantam.

Com o meu trabalho, eu pretendo despertar alegria. “Alegria é o nome dado à passagem de um estado para um estado de mais potência de vida”. Este é um pensamento spinozista que eu acredito e é isso que eu quero levar ao público.

Você já comentou em algumas entrevistas que o cotidiano é uma de suas grandes inspirações. Qual é a sua perspectiva sobre cotidiano e como ele costuma ser representado no seu trabalho?

O cotidiano seria o mundo das coisas, o mundo onde os corpos se encontram e onde as coisas acontecem. Nesse lugar, a tendência é olharmos para ele com menos força de observação, menos atenção, tornando as coisas do cotidiano em coisas comuns. É justamente nesse lugar do cotidiano onde eu consigo acessar o humano em mim e no outro. Nele, pequenos e grandes episódios acontecem em tempo integral, cabendo a mim exercitar a observação para me encantar o tempo inteiro com o cotidiano e as coisas da vida.

Levando em conta toda a sua trajetória, quais são os seus trabalhos preferidos e por quê?

É difícil dizer porque cada trabalho tem a sua importância. Hoje, eu poderia dizer que o meu preferido é o que eu pintei no quintal da minha vó e amanhã falar que é aquele que vou pintar na sala da minha mãe. Talvez a preferência esteja relacionada ao carinho afetivo que existe no processo e no lugar. Todo trabalho exige uma dedicação, uma necessidade de me conectar com aquele trabalho naquele instante para fazer o melhor que posso fazer. Então, todos os trabalhos são relevantes e importantes.

Você grafitou um novo trabalho no Transamerica Expo Center. Qual é o conceito por trás dessa nova obra?

O conceito por trás dessa obra é o movimento. Tudo ali é movimento e está em movimento na apresentação constante de novidades e novas possibilidades para todos. Ele gera construções de expectativas, planejamentos e realizações. Foi nesses lugares que eu fui habitando para realizar o trabalho.

Parede pintada no Transamerica Expo Center (Foto: Amanda Mancini)

Você já teve a chance de conhecer algum trabalho do Bieto? Conte para gente nos comentários e não se esqueça de compartilhar este bate-papo nas redes sociais.

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